segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Universidade Federal de Goiás.
Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia.
Curso de Pós – graduação em Assessoria de Comunicação.
Goiânia, novembro de 2002.
Professora: Núbia
Aluna: Geralda da Cunha Teixeira Ferraz

Artigo:
Tema: Educação
Título:
Educar para que?
Educar para quem?
Às vezes me pego recordando a minha infância e uma lembrança presente em todos os momentos é a Escola. Venho de uma família humilde e numerosa. A certeza que tínhamos era: estudar, estudar, estudar! A prole era dividida em duas turmas: enquanto uma estudava, a outra fazia suas tarefas e trabalhava. Havia um objetivo único de nossos pais, nos dar uma boa educação.
Meus pais, pessoas sem nenhum conhecimento acadêmico, viam a necessidade de nos educar. Renunciaram ao modo de vida rural e vieram procurar na cidade meios para que fosse possível alcançar o objetivo primeiro: a nossa educação!
A competência não reside no domínio do conhecimento e muito menos no discurso falacioso dos que fazem e ditam as políticas educacionais! Em qualquer situação, é importante que se tenha objetivos claros e compromisso de fato, para com a causa que se queira abraçar.
Nossas escolas hoje vivem o caos, em conseqüência deste descompasso entre o discurso e a prática, os objetivos traçados e os efetivamente perseguidos, o compromisso discursado e o que se tem de fato!
As diferentes realidades que compõem a Escola brasileira são o retrato das diferenças sociais e estruturais do país. Esta constatação é tão óbvia, quanto antiga. Portanto, é difícil acreditarmos em mudanças, sem, contudo mudar a estrutura e a mentalidade das pessoas que fazem educação, que fazem este país.
O problema maior da educação brasileira não reside nas suas leis, reside nas pessoas que as fazem, interpretam e as executam! Por pior que elas sejam, não podemos ficar só no discurso da crítica pela crítica. Existe a necessidade de partirmos para a ação e a partir da lógica da prática e da realidade, interferindo, analisando, avaliando e transformando.
É fato escolas sem a mínima estrutura necessária! É fato professores desvalorizados e sua conseqüente desin-formação! É fato a incoerência e a contradição entre o currículo imposto e a realidade do aluno! É fato uma educação voltada para os interesses mercadológicos! É fato!
Cruzar as mãos enquanto a revolução transformadora não acontece é a solução?
E como se faz revolução sem o despertar da consciência adormecida no berço da história alienante?
Acreditar que é possível uma educação para todos com qualidade deve ser a nossa prioridade. Buscar aliados para a luta cotidiana da Escola deve ser uma de nossas metas.
Sem envolver a sociedade, a luta continuará sendo apenas de grupos isolados, frutos desta realidade intimista, personalista, que por vezes, como os meus pais se sentirão recompensados em ver que a luta de educar seus filhos não foi em vão. Ou daquela professorinha que ao ver seu aluno depois de muitos anos, se sentira com o dever cumprido.
Não precisamos de heróis! Precisamos sim de seres humanos para trabalhar e perseguir a Educação que queremos.
Uma Educação voltada para a formação humana, que dê possibilidades para que o aluno faça as suas descobertas e seja respeitado nas suas potencialidades. Uma Escola de humanos para seres humanos. Ela só será possível se acreditarmos que os sonhos viram realidade e trabalharmos por eles.
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Bem, quando fizemos a leitura do livro O que é educação? – Carlos Brandão, lembrei-me deste texto que há algum tempo escrevi.. Exatamente porque nele tentei explicitar a educação como ela está concebida nas leis e como ela se dá na realidade.
Quando Brandão faz toda a linha histórica da educação e como ela é conduzida de fato, o sentimento de insatisfação e de fracasso toma conta! Por outro lado, ao perceber que a Educação é algo muito maior, que transcende as paredes das salas de aulas, que está inserida no modo de vida da sociedade, que ela é ideológica, e que pode ser transformadora, começamos aí a delinear outras possibilidades para a Educação do nosso país.
É importante retomarmos o conceito de Educação nas diversas e diferentes sociedades, como ela se dá, e com quais objetivos.
Em uma sociedade onde o modo de vida é coletivo, como por exemplo as tribos africanas e indígenas, percebemos que o processo educacional se dá de maneira integral, sem necessariamente estar limitada em um lugar formal, mas nas relações entre os mais velhos e os mais novos, quando estes a todo momento estão observando os mais velhos na perspectiva de aprenderem através da observação, e a partir daí definirem os seus papéis. A educação se dá na perspectiva da coletividade. Aprende-se para o grupo. O saber, passa pela necessidade de sobrevivência, de continuação da cultura do grupo.
Já na cultura ocidental, onde a sociedade está inserida no modo de vida globalizado, a educação se dá numa perspectiva da competição, conseqüentemente a educação é voltada para satisfazer uma necessidade do mercado, não do grupo, levando cada um a ter uma visão individualista, do aprender para si!
No Brasil a Educação desde os tempos coloniais, teve como parâmetros leis que propagavam uma universalidade, baseadas em princípios humanistas, mas longe de representarem o que de fato acontecia! As leis sempre serviram para legitimar políticas clientelistas visando beneficiar uma minoria privilegiada. A maioria da população ficava a mercê das escolas públicas de pouca, ou nenhuma qualidade.
A lei de diretrizes e bases da educação nº 9394/96, depois de anos de discussão em todas as instâncias do poder público e da sociedade, deveria representar a lei máxima, que viria ao encontro de anos de reivindicações, e serviria para fazer da educação brasileira um instrumento de participação e transformação da sociedade. Infelizmente de última hora, a sua redação final foi modificada, deixando lacunas que servem aos oportunistas para continuarem a ver a Educação como uma forma de controle da sociedade.
Importante mesmo é não perdermos de vista a educação como ela se dá, e como ela deveria ser! Sairmos daquela educação, que cultua as nomenclaturas e que fazem prevalecer o ‘status quo’ e engajarmos na educação que nos leva ao despertar do senso crítico, da pesquisa e da ciência inserida na realidade, na sociedade. Fazer com que teoria e prática, a interação através do di-álogo sejam a prática na busca de um conhecimento que nos fará melhores por sermos pensantes, questionadores e transformadores da realidade que nos é colocada.
Qualquer forma de educação que não passe pela reflexão da realidade que em que está inserida, está equivocada e contribui para que a sociedade continue alienada e manipulada por quem tem o poder nas mãos.



Geralda da Cunha Teixeira Ferraz

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