sábado, 25 de novembro de 2017

Todas contra dezoito

Artigo publicado no jornal O Popular, edição do dia 25.11.2017, por ocasião do dia internacional da não-violência contra a mulher

Todas contra dezoito
Geralda Ferraz – Assessora de Comunicação/ Presidente da Associação Mulheres na Comunicação
A mulher continua sendo vítima de violência! Não só a doméstica, mas de todas as formas de violência. Há pouco vimos com perplexidade a atuação da comissão parlamentar da Câmara dos Deputados  reunida para discutir uma Proposta de Emenda Constitucional, a PEC 181/2015, que a princípio tratava de proposta para discutir a licença-maternidade de mães de filhos prematuros, e que sorrateiramente sofreu alterações, estabelecendo que a vida começa na concepção, barrando a descriminalização do aborto e  vetando sua prática nos casos permitidos na legislação brasileira.
Um tema intrínseco as vidas das mulheres sendo tratado por 18 homens, sem o devido respeito, conhecimento ou sensibilidade. Desqualificando dados, estudos e especialistas. Mais! Desqualificando a capacidade das mulheres opinarem e decidirem  pelo que lhes pertencem, seus corpos! Tal encaminhamento ignorou inclusive, o pedido de questão de ordem da única deputada mulher presente na comissão, que não pode se pronunciar sobre um assunto! Assunto que naturalmente ela sabe falar com muito mais propriedade do que qualquer homem ali presente, simplesmente porque é mulher! Tal condução demonstrou o grau autoritário e machista daquela comissão, nada democrática! O cerceamento à voz da  única deputada mulher naquela comissão,  significou a violência e a criminalização de  mais de 50% da população brasileira composta de mulheres!
Para além da violência praticada contra as mulheres, os 18 parlamentares fundamentados na hipocrisia, deixando de lado os princípios éticos de um Estado Laico, previsto na Constituição Brasileira, demonstraram  irresponsabilidade  em relação as políticas públicas para esta parcela da população brasileira.  São as mulheres as mais vulneráveis, qualquer que seja o parâmetro a ser analisado. Na vida familiar, como chefe de família.  No mercado de trabalho, se sujeitando as piores condições de trabalho,  ganhando menos para exercer a mesma função que os homens, sem ter locais seguros (creches) para deixar seus filhos enquanto trabalham.  Nos espaços públicos, ficando a mercê de estupradores em ônibus lotados e outros locais, sem segurança. Nos programas preventivos, que deveriam prever planejamento familiar e a garantia de atendimentos nos postos de saúde. São as mulheres que morrem, porque assim como os parlamentares que votaram pela aprovação da PEC181, seus companheiros partem do princípio que são seus donos. Que as mulheres lhes pertencem!
O dia 25 de novembro é o dia de luta pelo fim da violência contra as mulheres. A aprovação da PEC 181 vai na contramão desta luta, significa violência e morte! Segundo a Organização Mundial da Saúde, o aborto é a quarta principal causa de mortalidade materna no Brasil. Estima-se que cerca de um milhão de procedimentos de abortamentos ilegais e inseguros são realizados por ano e a cada dois dias uma mulher morre por complicações de aborto ilegal no País.
A violência institucional está presente na atuação da Comissão Parlamentar. Vai contra o que está previsto no  CPB(1940), e na decisão do STF(2012), que permite o aborto em caso de estupro, de risco de vida da mulher e/ou gravidez  de anencéfalos. 
Vale a reflexão: a decisão da mulher não é crime! O estupro sim!