terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Na prevenção às drogas, o AMOR é fundamental!

No grupo de auto-ajuda Amor-Exigente, o mês de dezembro é reservado a estudar o último princípio, o AMOR. O amor é sem dúvida o princípio mais profundo e mais difícil de ser colocado em prática. Diz a proposta que “Amar os filhos não é fazer tudo por eles, dar-lhes tudo o que é possível. Amá-los é essencialmente exigir que eles façam o melhor que podem para si próprios e para os outros, pois só assim eles se sentirão plenos, realizados, felizes” .

E porque é tão difícil praticarmos o Amor? Por que somos levados a praticar o amor fácil? Será o estilo de vida, onde a falta de tempo é que rege as relações humanas? Onde o afeto, o diálogo, a presença são substituídos por coisas, objetos e ausências? Por que é mais fácil obter de nossos filhos o silêncio, ou evitar a cobrança, deixando de fazer aquilo que está ao nosso alcance, para não ter que dividir as atenções? Será que é para não ter que chatearmos estabelecendo limites quando necessário!? ; dizendo “não”, observando se o que de fato estão fazendo é bom ou mal para ele e para os outros?


Numa sociedade como a nossa baseada no consumo, vários são os fatores externos disponíveis em todos os lugares que interferem no nosso dia-a-dia, na educação dos nossos filhos. A mídia dá a falsa ilusão de que a vida reside no prazer e nas relações descartáveis, assim como um tênis que saiu de moda ou um aparelho de telefone de celular que já não é ‘top de linha’ . Ao optarmos pelo AMOR fácil corremos o risco de colaborar para que nossos filhos sejam seduzidos por essa ilusão de prazer fácil, sem ter a dimensão das conseqüências que possam vir dessas opções, e é aí que mora o perigo! A busca do prazer fácil não conhece limites. É uma porta com passagem ‘confortável’ para a iniciação no mundo das drogas.

Daí a importância de estarmos sempre bem informados sobre os nossos filhos e sobre o mundo deles. Compartilharmos dos desafios, dos sucessos e de suas angústias. Termos a sensibilidade de apoiar ou punir quando se fizer necessário. Estabelecer padrões e normas de condutas justas, que seguramente irão norteá-los não só nos momentos de crise, mas em toda a sua vida. É bom lembrarmos: nós, mães e pais, somos o referencial primeiro, suas raízes culturais, somos o NORTE!

Se queremos ver nossos filhos longe do mundo dos vícios e das drogas, devemos ter claro que AMOR é mais que um sentimento de bondade. AMOR é desprendimento, é compreender e respeitar o outro. Sem egoísmo, sem comodismo. Quem AMA exige, orienta, educa!


Geralda Ferraz – voluntária do grupo de Auto-ajuda – AMOR - EXIGENTE
Publicado no jornal "O Popular" - 02/12/2009
Que presente você quer dar neste Natal?

O dicionário da Língua Portuguesa traz alguns significados para a palavra PRESENTE. Vejamos: a palavra presente pode significar aquele(a) que assiste ou comparece pessoalmente; aquilo que existe na atualidade; aquilo que é atual; aquele(a) que participa, é interessado; o tempo atual ou ainda, lembrança, mimo, dádiva.
Como Cristãos que somos qual o significado que traduziria com verdade e grandeza o momento do Advento, o qual toda a Igreja Católica está celebrando e que precede o NATAL?

Na atualidade, para muitas pessoas a chegada do menino Deus é um fato distante, quase imperceptível. Infelizmente, a nossa cultura vem se modificando ao longo dos anos. São transformações movidas pelo dinheiro, pelo individualismo crescente e pela perda da nossa identidade.

As belas luzes decorativas que enfeitam nossa cidade e que fascinam crianças e adultos, nesta época do ano, denunciam um fator motivador, o comércio, as vendas. Nós, clientes consumistas em potencial, nos envolvemos no clima da magia do comércio e nos concentramos em adquirir presentes. Vamos comprando, recebendo e dando presentes, como se dessa forma compartilhássemos todo o nosso afeto e pudéssemos com isso preencher todas as ausências.

Que significado queremos dar a palavra PRESENTE em nossas vidas? Queremos ser dádiva na vida das pessoas? Queremos ser a pessoa que se faz presente nos momentos difíceis, nos momentos alegres, partilhando, amando, doando, buscando viver e ser a imagem e semelhança de Nosso Senhor Jesus Cristo? Ou será que inebriadas pelos bens de consumo, pelo egoísmo do “TER” optamos pelo presente das lojas, dos shoppings, longe da essência, longe de exercitarmos o que nos diferencia dos demais animais, a capacidade de AMAR, de respeitar os outros, de compartilhar a nossa vida com a vida das outras pessoas.

É tempo de nos prepararmos para a chegada, o nascimento, a VIDA. Portanto, faz-se necessário que voltemos para nós mesmos. Façamos uma retomada. Vamos todo (a)s refletir sobre as coisas mais simples: Quem Sou Eu? O que Eu quero para a minha VIDA? O que é importante para a minha vida? Estou sendo um (a) bom (a) filho (a)?; Estou sendo um (a) bom (a) pai/mãe?; Estou sendo companheiro (a)?; Sou amigo (a)? Sou solidário (a)?; Qual é o meu compromisso com o próximo? Como está a minha conduta no dia-a-dia? No meu trabalho, na minha casa, na minha escola? Tenho condições de ser uma PESSOA melhor? Posso ser DÁDIVA na vida das pessoas que amo?

Ao tomarmos consciência da profundidade do significado da palavra PRESENTE na vida das pessoas; ao praticarmos a máxima de Jesus Cristo, “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, não se espantem se o sentimento que lhes invadirem for uma alegria incontrolável e a sensação de que somos privilegiados por termos recebido muito mais do que nos deram!

Feliz Natal!! Que Jesus Cristo se faça PRESENTE na vida de cada um de nós!
Geralda Ferraz

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Salve 27 de abril, as empregadas domésticas e os espaços democráticos - 26/04/2007

Aqueles que têm saudades dos salvadores da pátria, dos políticos populistas cometem um grande equívoco, ou ainda estão presos à cultura da política de direitos para poucos. Na semana em que se comemora o dia da empregada doméstica, 27 de abril, recorremos à história da categoria para homenageá-las e refletirmos sobre a importância deste e outros movimentos sociais na consolidação da cidadania das minorias excluídas.

A partir das concepções não-hegemônicas de democracia que proliferaram pelo mundo na metade do século XX, mas que no Brasil tiveram repercussão somente na década de 80, surgiram inúmeros movimentos que começaram a questionar às práticas vigentes. Mulheres, negros, homossexuais, donas-de-casa e tantos outros segmentos ao organizarem-se em associações, sindicatos, fóruns e conselhos problematizaram suas reivindicações, ganharam visibilidade, tornando público suas realidades de exclusão.

O movimento das empregadas domésticas ilustra bem este novo modelo. Creuza Maria Oliveira, 48 anos, presidenta da Federação Nacional dos trabalhadores domésticos, uma das precursoras na luta das empregadas domésticas, em uma entrevista, ao descrever como começou seu trabalho sindical, deu a medida exata da importância das organizações e articulações que antecederam a criação de associações e sindicatos.

Diante de uma situação de injustiça em sua condição de doméstica, Creuza questionava por que os trabalhadores tinham direitos e as domésticas não, e, percebendo que este questionamento não expressava um sentimento isolado, buscou se organizar. Um convite deu a ela o que precisava: a informação de que existia um grupo de domésticas reunindo-se quinzenalmente em um colégio baiano. Creuza tratou logo de convidar para as reuniões, todas as colegas de profissão que trabalhavam no mesmo prédio que ela e daquele momento em diante nunca mais saiu do cenário sindical e político. São 34 anos dedicados a combater a invisibilidade social, a grande inimiga das empregadas domésticas.

Jurgen Habermas, sociólogo e filósofo alemão em seus escritos, afirma “que a esfera pública é um espaço no qual indivíduos – mulheres, negros, trabalhadores, minorias raciais – podem problematizar em público uma condição de desigualdade na esfera privada”, segundo ele, “as ações em público dos indivíduos permitem-lhes questionar a sua exclusão de arranjos políticos através de um princípio de deliberação societária”. Foi exatamente o que aconteceu com a articulação e organização das empregadas domésticas, ao dar visibilidade aos problemas comuns da categoria.

Ao reivindicar os direitos das empregadas domésticas, a categoria, liderada pela negra Creuza, questionou uma cultura política, social e estatal de exclusão e propôs uma outra mais inclusiva, com a presença e a visibilidade, antes negadas pela cultura política vigente. Seguramente as articulações, os anos de luta, a presença nas diversas instâncias democráticas de discussão e decisão, foram fundamentais para que muitos direitos das e dos empregados domésticos fossem incorporados nas pautas dos parlamentares e estejam hoje garantidos em lei.

Há motivos suficientes para se comemorar o dia das empregadas domésticas, sobretudo porque a comemoração possibilita que a categoria dê visibilidade às reivindicações ainda não previstas na lei, como a indenização por tempo de serviço, o direito ao salário família, a jornada de trabalho fixada em lei, às horas extras, o adicional noturno e a aposentadoria especial.

Saudações às Luzias, Mônicas, Domingas, Rosângelas, Josefas e Ritas, dignas representantes da classe das empregadas domésticas.


Perfil das empregadas domésticas brasileiras:
De acordo com dados do Dieese, de 2004, O Brasil possui 6,5 milhões de empregados domésticos, 95% delas do sexo feminino. O perfil das ocupadas nesta atividade se assemelha: geralmente são trabalhadoras negras, com idade entre 25 e 39 anos, com o ensino fundamental incompleto. Os dados ainda revelam que apenas 30% delas contribuem com a Previdência Social, ou seja, têm carteira assinada.

O problema é tão sério que levou o Governo Federal a buscar uma solução para a informalidade. Com o objetivo de ampliar o número de registros em carteira, editou no ano 2006 a Medida Provisória n° 284, dando ao empregador (a) o direito de deduzir parte dos encargos pagos a Previdência Social, na declaração de Imposto de Renda de pessoa física. A MP está longe de acolher todas as reivindicações da categoria, porém é um avanço que não deve ser desconsiderado.







Geralda da Cunha Teixeira Ferraz - Radialista
Integrante da Articulação Nacional - Rede de Mulheres no Rádio
Especialista em Assessoria de Comunicação e Gestão Escolar pela UFG
Pós-graduanda em Comunicação Pública pela Escola de Governo/ESPM

Relaxa. Não adianta reclamar! - 12/02/2007

Relaxa. Aqui não adianta reclamar!

Sete e meia da manhã. Terça-feira. Mês de janeiro, muita gente querendo colocar a casa em ordem, inclusive eu. Aproveito meus últimos dias de férias para finalizar a averbação da minha casa. Mal sabia o que aquela manhã me reservava!

Ao chegar na Previdência Social, percebi que havia uma fila de mais ou menos trinta pessoas aguardando o início do expediente. Oito horas, os portões se abrem e a fila segue em direção a uma grande sala de atendimento, nos dirigimos para o fundo, onde se lia: atendimento especializado. Havia um balcão ocupado por três atendentes. Curiosamente a distribuição de senhas foi feita a partir da senha de número vinte e cinco. A minha era quarenta e nove. Na pior das hipóteses, acreditava que até as dez horas da manhã já teria pego a Certidão Negativa de Débitos-CND.

A equipe do atendimento especializado era formada por duas senhoras e um senhor. Este estrategicamente acomodado entre as duas atendentes. Explico o estrategicamente. Dos três o mais informado e que tinha alguma tolerância com o “público” era o senhor, que de tão solicitado pelas colegas, passou a ser conhecido também dos que ali aguardavam atendimento. Era o João! Entendia todos os procedimentos, daí a necessidade de sentar-se no guichê situado entre as duas outras. O João no final das contas demorava mais nos atendimentos, já que tinha de parar o seu serviço a todo minuto para socorrer as colegas que estavam a sua volta.

As pessoas, cidadãs, na maioria pessoas simples, sem nenhuma informação e conhecimento, chegam lá para se informarem e serem atendidas. Saem de lá piores do que quando chegaram. Quem atende, ao invés de dar as explicações e orientações necessárias, detem-se em dizer de forma brusca que não pode resolver, porque falta a documentação necessária. A postura inibidora dos atendentes faz com que as pessoas se recolham em suas insignificâncias e saiam com a impressão de que são muito limitadas. Como se ouvissem: seu ignorante, se não sabe o que quer, o que está fazendo aqui?

Em pouco tempo de espera, percebi que não seria atendida tão cedo, aconselhada pelo meu marido, procurei relaxar. Aproveitei para observar. Interessante o atendimento especializado que foi concedido a um senhor idoso. Ele chegou, sentou-se em frente ao primeiro guichê, cuja atendente era responsável pelas senhas especiais. Não se preocupou e provavelmente nem sabia das tais senhas e aguardou para ser atendido. Vi com naturalidade sua atitude, afinal o Estatuto do Idoso garante atendimento prioritário a eles. Entre o tempo em que a atendente se ocupou, pedindo informações ao João e justificando que o sistema acabara de sair do ar, passaram-se mais de uma hora e o idoso abandonado à sua frente. Acabei por esquecer também dele. De repente ouço a atendente dizer: Esse caso eu não atendo! Voltei os olhos para o guichê de atendimento de senhas especiais e vi que ela conversava com o idoso. Ele estava com uma carteira de trabalho nas mãos e mesmo com a negativa, não desistiu. Ela então se dirigiu ao João e voltou a dizer: Esse caso eu não atendo! O João se prontificou a atendê-lo. Como estava ocupado, virou-se para a colega da direita e perguntou se ela poderia ver o caso do idoso. Surpreendentemente, a atendente mais carrancuda se prontificou a atender o vovô. Só então é que de posse da carteira de trabalho do idoso, a atendente número três analisou e ouviu o que ele queria. Concluiu que o problema dele deveria ser encaminhado a outro órgão. A explicação que poderia ter sido dada logo no início, em respeito ao idoso, foi feita com mais de uma hora de espera!

Na nossa interminável manhã, às vezes fazíamos e ouvíamos comentários irônicos sobre a forma de tratamento aos usuários e a sensação de que não adiantava reclamar. Reclamar para quem, onde? De frente para as cadeiras de espera, fixada em um armário-arquivo havia o número do telefone da Polícia Federal. Só mais tarde entendi que, muito mais que informar, aquele número era para intimidar àqueles que perdiam a paciência com o atendimento negligenciado. Ouvi de uma das pessoas que como eu aguardava sua vez, que não adiantava ficar nervoso, porque os servidores chamavam a PF e o cidadão exaltado, ainda poderia ser enquadrado por desacato à autoridade! O curioso é que não visualizei ali os números dos telefones da Ouvidoria e da Corregedoria da Previdência Social.

Eram doze horas e quarenta minutos quando chamaram a senha quarenta e nove. Havia chegado a minha vez. Foi o João que nos atendeu. Ele logo foi perguntando por que demoramos solicitar a CND, já que havíamos pago a guia de recolhimento em agosto passado. Meu marido não deu ouvidos à pergunta. Eu não prossegui com a conversa, até por medo de retaliação. Tive vontade de responder: João, não viemos antes, porque em tempo normal de trabalho, seria impossível ficarmos cinco horas e 10 minutos longe aqui, sem nos prejudicarmos no nosso trabalho!

Não está na hora de mudarmos a nossa prática diária nos nossos locais de trabalho? Se não sensibilizarmos em relação ao respeito com o outro, percebendo o humano, sensibilizemos então, com as mudanças que nos são impostas pelo avanço e ocupação cada vez mais efetiva dos sistemas de informação em todos os espaços. As máquinas podem até não resolver todos os problemas, mas são re-programáveis e mudam, basta a lógica da sociedade de consumo visualizar a necessidade de se adequar às novas exigências de mercado.


Geralda C. Teixeira Ferraz
Gerente de Comunicação da SSP- Servidora Pública Estadual

A mulher e o mercado de consumo

A Mulher e o mercado de consumo - 26/11/2005

As mudanças sociais delinearam um novo perfil de pessoas para a Sociedade Ocidental. As mulheres são as que assimilaram estas mudanças até com uma certa tranqüilidade. Talvez porque estas mudanças tenham sido fruto de anos e anos de luta para verem seus direitos garantidos e respeitados.

Dados estatísticos, porém, dão conta de que em virtude desta mudança, o mercado está cada vez mais ávido por esta lucrativa fatia. É todo um arsenal de coisas foi montado para ampliar o nicho de mercado e vender produtos para o público feminino. De lingerie a carro; de eletrodomésticos à produtos bancários; de telefones celulares a sofisticados notebooks. Tudo que antes era próprio do público masculino, hoje é vendido para o público feminino com um toque de feminilidade. Para a sociedade capitalista, ou a sociedade de consumo, a nova tendência de mercado é um prato cheio para que as empresas ganhem mais e mais dinheiro, já que sabidamente hoje as mulheres representam mais de 50% da população brasileira.

Me preocupa é que ainda explorando as conquistas feministas vemos surgir uma outra tendência: de programas, palestras, serviços voltados para a mulher que não trazem nenhuma contribuição para a sua emancipação, ao contrário, reforçam a idéia de mulher supérflua, consumista e que não gosta de pensar. Fico feliz quando no mês da mulher vejo proliferar uma quantidade enorme de atividades em homenagem ou para elas. A princípio chego a pensar: que legal, vamos estar aprofundando as discussões em torno dos inúmeros problemas que ainda atingem a maioria das mulheres brasileiras. Mas quando passamos os olhos pela programação deste ou daquele evento, os assuntos que prevalecem são sempre aqueles que ligam a imagem da mulher ao mundo fácil da beleza, do consumo, do dinheiro. Nada de falar da falta de programas que contemplem a saúde, a sexualidade, o direito da mulher decidir pelo seu próprio corpo, de discutir os preços inflacionados da comida que vai na mesa das brasileiras e brasileiros, nada de polêmicas, nada do que possa a ser uma difícil discussão. Apenas a superficialidade!

Atenção e vivacidade são o que toda a mulher deve ter nestes momentos! Todo e qualquer evento que enxergue a mulher como pessoa com direitos e deveres, não pode ser planejado sem prever o problema da grande maioria de mulheres empobrecidas, alienadas, injustiçadas! Discutir questões femininas como se tivesse discutindo a melhor forma de manter um casamento, como se a mulher fosse a única responsável, não contemplando o compromisso e dever do homem; discutir espaço público, sem falar das milhares de excluídas; discutir beleza, sem antes discutir submissão da mulher e como fazer ela gostar de si, sem ter que seguir o padrão estabelecido pela mídia... me desculpem as companheiras, isso é discurso vazio, sem nenhum objetivo... ou melhor, com o único e exclusivo objetivo de ajudar o mercado a vender seus produtos, para o público feminino que hoje representa o grande diferencial do mercado de consumo!
Geralda Ferraz
Universidade Federal de Goiás.
Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia.
Curso de Pós – graduação em Assessoria de Comunicação.
Goiânia, novembro de 2002.
Professora: Núbia
Aluna: Geralda da Cunha Teixeira Ferraz

Artigo:
Tema: Educação
Título:
Educar para que?
Educar para quem?
Às vezes me pego recordando a minha infância e uma lembrança presente em todos os momentos é a Escola. Venho de uma família humilde e numerosa. A certeza que tínhamos era: estudar, estudar, estudar! A prole era dividida em duas turmas: enquanto uma estudava, a outra fazia suas tarefas e trabalhava. Havia um objetivo único de nossos pais, nos dar uma boa educação.
Meus pais, pessoas sem nenhum conhecimento acadêmico, viam a necessidade de nos educar. Renunciaram ao modo de vida rural e vieram procurar na cidade meios para que fosse possível alcançar o objetivo primeiro: a nossa educação!
A competência não reside no domínio do conhecimento e muito menos no discurso falacioso dos que fazem e ditam as políticas educacionais! Em qualquer situação, é importante que se tenha objetivos claros e compromisso de fato, para com a causa que se queira abraçar.
Nossas escolas hoje vivem o caos, em conseqüência deste descompasso entre o discurso e a prática, os objetivos traçados e os efetivamente perseguidos, o compromisso discursado e o que se tem de fato!
As diferentes realidades que compõem a Escola brasileira são o retrato das diferenças sociais e estruturais do país. Esta constatação é tão óbvia, quanto antiga. Portanto, é difícil acreditarmos em mudanças, sem, contudo mudar a estrutura e a mentalidade das pessoas que fazem educação, que fazem este país.
O problema maior da educação brasileira não reside nas suas leis, reside nas pessoas que as fazem, interpretam e as executam! Por pior que elas sejam, não podemos ficar só no discurso da crítica pela crítica. Existe a necessidade de partirmos para a ação e a partir da lógica da prática e da realidade, interferindo, analisando, avaliando e transformando.
É fato escolas sem a mínima estrutura necessária! É fato professores desvalorizados e sua conseqüente desin-formação! É fato a incoerência e a contradição entre o currículo imposto e a realidade do aluno! É fato uma educação voltada para os interesses mercadológicos! É fato!
Cruzar as mãos enquanto a revolução transformadora não acontece é a solução?
E como se faz revolução sem o despertar da consciência adormecida no berço da história alienante?
Acreditar que é possível uma educação para todos com qualidade deve ser a nossa prioridade. Buscar aliados para a luta cotidiana da Escola deve ser uma de nossas metas.
Sem envolver a sociedade, a luta continuará sendo apenas de grupos isolados, frutos desta realidade intimista, personalista, que por vezes, como os meus pais se sentirão recompensados em ver que a luta de educar seus filhos não foi em vão. Ou daquela professorinha que ao ver seu aluno depois de muitos anos, se sentira com o dever cumprido.
Não precisamos de heróis! Precisamos sim de seres humanos para trabalhar e perseguir a Educação que queremos.
Uma Educação voltada para a formação humana, que dê possibilidades para que o aluno faça as suas descobertas e seja respeitado nas suas potencialidades. Uma Escola de humanos para seres humanos. Ela só será possível se acreditarmos que os sonhos viram realidade e trabalharmos por eles.
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Bem, quando fizemos a leitura do livro O que é educação? – Carlos Brandão, lembrei-me deste texto que há algum tempo escrevi.. Exatamente porque nele tentei explicitar a educação como ela está concebida nas leis e como ela se dá na realidade.
Quando Brandão faz toda a linha histórica da educação e como ela é conduzida de fato, o sentimento de insatisfação e de fracasso toma conta! Por outro lado, ao perceber que a Educação é algo muito maior, que transcende as paredes das salas de aulas, que está inserida no modo de vida da sociedade, que ela é ideológica, e que pode ser transformadora, começamos aí a delinear outras possibilidades para a Educação do nosso país.
É importante retomarmos o conceito de Educação nas diversas e diferentes sociedades, como ela se dá, e com quais objetivos.
Em uma sociedade onde o modo de vida é coletivo, como por exemplo as tribos africanas e indígenas, percebemos que o processo educacional se dá de maneira integral, sem necessariamente estar limitada em um lugar formal, mas nas relações entre os mais velhos e os mais novos, quando estes a todo momento estão observando os mais velhos na perspectiva de aprenderem através da observação, e a partir daí definirem os seus papéis. A educação se dá na perspectiva da coletividade. Aprende-se para o grupo. O saber, passa pela necessidade de sobrevivência, de continuação da cultura do grupo.
Já na cultura ocidental, onde a sociedade está inserida no modo de vida globalizado, a educação se dá numa perspectiva da competição, conseqüentemente a educação é voltada para satisfazer uma necessidade do mercado, não do grupo, levando cada um a ter uma visão individualista, do aprender para si!
No Brasil a Educação desde os tempos coloniais, teve como parâmetros leis que propagavam uma universalidade, baseadas em princípios humanistas, mas longe de representarem o que de fato acontecia! As leis sempre serviram para legitimar políticas clientelistas visando beneficiar uma minoria privilegiada. A maioria da população ficava a mercê das escolas públicas de pouca, ou nenhuma qualidade.
A lei de diretrizes e bases da educação nº 9394/96, depois de anos de discussão em todas as instâncias do poder público e da sociedade, deveria representar a lei máxima, que viria ao encontro de anos de reivindicações, e serviria para fazer da educação brasileira um instrumento de participação e transformação da sociedade. Infelizmente de última hora, a sua redação final foi modificada, deixando lacunas que servem aos oportunistas para continuarem a ver a Educação como uma forma de controle da sociedade.
Importante mesmo é não perdermos de vista a educação como ela se dá, e como ela deveria ser! Sairmos daquela educação, que cultua as nomenclaturas e que fazem prevalecer o ‘status quo’ e engajarmos na educação que nos leva ao despertar do senso crítico, da pesquisa e da ciência inserida na realidade, na sociedade. Fazer com que teoria e prática, a interação através do di-álogo sejam a prática na busca de um conhecimento que nos fará melhores por sermos pensantes, questionadores e transformadores da realidade que nos é colocada.
Qualquer forma de educação que não passe pela reflexão da realidade que em que está inserida, está equivocada e contribui para que a sociedade continue alienada e manipulada por quem tem o poder nas mãos.



Geralda da Cunha Teixeira Ferraz

Geralda C. T. Ferraz

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Comunicação, Educação e Feminismo são três temáticas recorrentes na minha vida pessoal e profissional. Estudo, trabalho, atuo no movimento de mulheres e comunicação popular. Faço da prática meu "locus" de aprendizagem, conhecimento e vida.

Geralda da Cunha Teixeira Ferraz