domingo, 6 de outubro de 2013

A participação popular na consolidação da democracia.


Praça dos Bandeirantes - Goiânia - Manifestação no mês de junho/2013
O regime democrático brasileiro carrega consigo uma grande  crise de identidade,  fruto do seu curto tempo de existência. Nascidos em pleno período ditatorial, crescemos e  assistimos aos avanços pós-abertura política, com anseios de ver todas as mazelas sociais resolvidas e o país inserido definitivamente no bloco dos países desenvolvidos.

Acontece que a realidade não é bem assim. Podemos relacionar o  processo histórico de uma sociedade com o processo de desenvolvimento humano. Todo o ser humano passa por fases específicas  até chegar a idade adulta e consequentemente à maturidade. Nós brasileiros temos pouco mais de 500 anos de história,  tempo curto diante das culturas milenares.  Nesse período vivenciamos a monarquia escravocrata, a república das oligarquias, o populismo e os governos militares  atrelados a política de Segurança Nacional, preconizada pelos Estados Unidos da América, na intenção de  rechaçar  qualquer ameaça “comunista” nos países da América Latina. Finalmente vivemos hoje, em um contexto que podemos considerar a estabilidade democrática, em vigor há quase 30 anos, e os avanços decorrentes desse período.

Desde de 1988, há exatamente 25 anos, com a promulgação da Constituição Brasileira,  a sociedade tem experimentado o gosto de poder votar, opinar, contestar, debater, reivindicar, se organizar em associações, sindicatos, conselhos e organizações não governamentais na defesa daquilo que acredita. Na defesa de seus direitos. Essa é uma conquista que não tem preço e que representa um avanço significativo para um país na busca de sua Identidade, de sua autonomia política e financeira e de Justiça Social.    

Não podemos desassociar o avanço democrático  da contribuição dos movimentos sociais para a consolidação da democracia no Brasil. Nas três últimas décadas podemos observar que cada vez mais a sociedade civil vem se organizando, lutando e criando mecanismos na defesa dos direitos dos cidadãos. A criação de fóruns e conselhos como órgãos fiscalizadores e fomentadores de políticas públicas, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, a Lei de Defesa do Consumidor, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a Lei Maria da Penha fazem parte desses avanços. São leis que se efetivaram a partir da mobilização, da organização da sociedade brasileira. Por mais que haja um sentimento de que ainda há muito por fazer, é importante voltarmos nosso olhar para a história recente e perceber o muito que foi conquistado.

Entendemos que o  caminho para essa conquista  demanda esforços de toda a sociedade. Um olhar menos atento, sem levar em conta todo o contexto descrito, poderia afirmar que estamos longe de sermos um país democrático, porque convivemos ainda com problemas estruturais que o processo  democrático não conseguiu resolver.  Convivemos com uma classe política que nos causa vergonha diante da corrupção, do descaso com o ente público, o que provoca uma insatisfação imensurável, devido aos problemas  que vão se acumulando ao longo dos anos, sem  enxergarmos a luz no fim do túnel.

A participação dos movimentos sociais na vida política de sua cidade, do seu estado, do seu país é fundamental para que alcancemos nossos objetivos enquanto cidadãos.  Esse é o caminho para que os nossos representantes políticos sejam os mais fidedignos aos anseios daqueles que representam. Infelizmente, vemos com pesar,  uma crescente onda de mau uso dos mecanismos sociais, por parte de alguns que se posicionam como lideranças de determinado segmento social.  Cada vez mais um jeito feio e triste de fazer política vem prosperando na nossa sociedade.

Não podemos acreditar em lideranças que se colocam como “salvadoras da pátria”, infalíveis. Precisamos de lideranças que saibam e sintam as necessidades do povo, porque é um deles. Que colaborem na conscientização das pessoas, que participem e atuem como qualquer cidadão, sem privilégios, com direitos e deveres.  Se compactuarmos com o jeito feio de fazer política, daremos espaços para os falsos líderes, que na primeira oportunidade se vendem e passam a lutar por interesses menores, deixando-nos com a sensação de que são todos iguais, e que não vale a pena lutar pelo bem comum.  Em momentos assim vale a máxima de Martin Luther King: - O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons. No próximo ano estaremos diante de um novo processo eleitoral, precisamos de novos políticos, que represente a ética na política, que represente a transparência, a verdade, que defenda os interesses do povo e não coloque os seus interesses em primeiro lugar.

Geralda Ferraz
Radialista, assessora de comunicação e militante do movimento de mulheres de Goiás