segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A participação das mulheres na política

A participação das mulheres na política





Com a recente eleição presidencial e a vitória da primeira mulher para ocupar o cargo mais alto do executivo nacional, o artigo escrito abaixo e publicado no período da campanha torna-se atual e nos convida a uma reflexão mais profunda sobre a participação das mulheres na política...

Ao vermos duas candidatas mulheres concorrendo a presidência da República, a impressão que se tem é que o Brasil está à frente de muitos países quando o assunto é a participação das mulheres na política. A realidade não é o que parece ser!

O século XX representou para as mulheres um divisor de águas em relação às conquistas pelos seus direitos. Porém, mesmo com todos os avanços, existem áreas em que as desigualdades persistem, prevalecendo o olhar, o fazer masculino, sem contemplar as diferenças e diversidades. A política é uma delas. Muitos países avançaram e na ocupação dos espaços de poder prevalece o equilíbrio. Não é o caso do Brasil.

A conquista do voto nos anos 30, início do século XX, não representou o ‘empoderamento’ da mulher na vida política brasileira. Na visão predominante dos representantes políticos, a presença da mulher deveria ficar restrita ao voto. A militância política, também ficava restrita a tarefas consideradas menores - uma extensão dos afazeres domésticos. Ainda hoje nos partidos políticos, a participação das mulheres no trabalho burocrático ou de militância de base é considerável, mas, à medida que as decisões políticas se afunilam, a presença feminina é quase nula.

Para que as mulheres tivessem uma participação efetiva no processo eleitoral, foi necessário que elas fossem à luta e conquistassem o direito a participação, garantindo o preenchimento de um percentual de candidatas nos partidos políticos. Porém, não foi suficiente para garantir a presença das mulheres nos espaços de poder.

Mulheres militantes de partidos políticos dão conta que o relacionamento interno seja em partido de esquerda, centro ou de direita é extremamente difícil. As mulheres continuam sendo vistas como apêndices e invisibilizadas. Muitas inclusive, desistem, não suportam a pressão psicológica, o sentimento de culpa, já que para exercer o direito de participar da vida política, têm que abrir mão da sua vida pessoal, e do que na sociedade patriarcal, instituiu-se como tarefa da mulher, o cuidado com a família.

Todo este conjunto de fatores favoráveis a não participação das mulheres na política, fazem do Brasil, um dos países com menor participação política de mulheres no parlamento. De acordo com o ranking da União Interparlamentar (IPU, sigla em Inglês), que mede a participação das mulheres no parlamento, entre os 180 países que compõe a lista, o Brasil ocupa o 148º lugar. Em relação aos países da América do Sul, o Brasil é o país com a menor participação.

É certo que precisamos nos aprofundar na reflexão sobre os fatores que contribuem para que as mulheres não avancem na participação política. Além dos já citados, é preciso que o Estado invista em políticas públicas de infra-estrutura que beneficiem as mulheres e que elas possam dividir a tarefa de cuidar dos seus. Tarefas que acabam sobrecarregando e limitando o tempo que as mulheres poderiam dedicar à prática política. Também é preciso repensar o processo eleitoral brasileiro baseado no poder econômico, na privatização das campanhas eleitorais, nas práticas de influências que só aumentam o fosso da desigualdade entre os candidatos e as candidatas.



Geralda da Cunha Teixeira Ferraz

Escrivã de Polícia – Assessora de Imprensa

Presidenta da Associação Mulheres na Comunicação