domingo, 23 de novembro de 2014

Mulher e Cultura

Recentemente a
conteceu em Salvador, Bahia, o 1º seminário nacional Mulher e Cultura. Pela primeira vez um encontro foi idealizado para dar voz a mais de 450 mulheres de todo o país, com uma riqueza imensurável de experiências apresentadas através de conferências, debates e rodas de conversa. O seminário nos remete a uma reflexão sobre mulher e cultura em Goiás.
Para falar sobre “Mulher e Cultura”, é preciso conhecer o contexto histórico do papel social da mulher na sociedade ocidental. Da mesma forma, não há como falar do papel da mulher na cultura goiana sem nos debruçarmos em como se dão as relações sociais na história da humanidade. Desde os primórdios,  mulheres e homens desempenham papeis sociais diferentes, que variam de uma cultura para outra, de acordo com as convenções elaboradas socialmente, própria da vida em sociedade. Na sociedade ocidental o papel da mulher está relacionado com a desigualdade sexual. A figura feminina foi associada à ideia de fragilidade maior, o que a colocava em situação de dependência da figura masculina. Tal modelo está fundamentado na chamada sociedade patriarcal, onde o poder, a rua, as conquistas estão para os homens, assim como a submissão, a casa, o cuidado com os maridos e filhos estão para as mulheres.
Qual o papel da mulher na sociedade atual? A mulher do século XXI deixou de ser coadjuvante para assumir um lugar diferente na sociedade, de protagonista, com novas liberdades, possibilidades e responsabilidades, dando voz ativa a seu senso crítico. Hoje as mulheres estão à frente de universidades, empresas, cidades e, até mesmo, países, a exemplo da presidenta Dilma Roussef, primeira mulher a assumir o cargo mais importante da República brasileira.
Ao fazermos referência ao papel social da mulher na história ocidental, constatamos que a história da mulher goiana não é diferente. Sua identidade está fundamentada no modo de viver rural de seus antepassados. A elas eram reservadas a casa, a educação dos filhos, os ensinamentos religiosos, os serviços da lida doméstica. Comunidades ainda mantêm viva a cultura herdada de seus antepassados como forma de darem a conhecer o modo de vida de uma época, que era transmitido em ações rotineiras no ato de cozer, nas rodas de fiar, nas festas religiosas, no cuidado com a família. Tais grupos são focos de resistência e teimam em manter viva a cultura de seu povo. Percebe-se que a mulher goiana, contraditoriamente ao modelo social de onde veio, ao demonstrar a cultura de uma época em que o patriarcado prevalecia, é a grande protagonista como guardiã dos conhecimentos, de uma cultura, e que ainda hoje se fazem presentes, pelo compromisso e persistência dessas guerreiras.
Grupos de mulheres fiandeiras, benzedeiras, doceiras, parteiras, comunidades de congadas,  mães de santo das comunidades de terreiro, as negras das comunidades quilombolas, os grupos de foliãs de reis,  são exemplos de expressões da cultura popular existentes em nosso estado que resistem ao tempo sem nenhum apoio institucional. É preciso pensar políticas públicas que garantam a essas comunidades a perpetuação de suas tradições, como forma de conhecermos e valorizarmos a história das mulheres, de manterem vivas as culturas herdadas  e consequentemente a história do povo goiano, nossa identidade cultural. Hoje diferente de outrora, inserida em uma sociedade de direitos, sem as amarras da cultura patriarcal.
Por outro lado, pensar políticas públicas para a cultura em Goiás na atualidade é pensar a presença da mulher em todos os espaços da nossa sociedade (presente ainda no espaço da casa, mas atuante nos outros espaços como protagonistas de si mesmas), é ter sensibilidade para conhecer as especificidades do sexo feminino e buscar a superação das práticas culturais machistas.

É necessário priorizar a cultura inserindo em todas as suas vertentes as questões de gênero, resgatar a história das mulheres, sua importância na vida social goiana e dar visibilidade às ações por elas efetivadas ao longo da nossa história, consolidadas pela persistência de nobres desconhecidas; e mais, é preciso trazer a luz a própria história cultural de Goiás, que infelizmente é contada apenas pelo ponto de vista daqueles que detêm o poder e que durante séculos perpetuaram a invisibilidade das ações de nossas ancestrais, sob o julgo do patriarcado.
Publicado no jornal "O Hoje" na edição do dia 08 de novembro de 2014

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