Recentemente a
conteceu em Salvador, Bahia, o 1º seminário nacional
Mulher e Cultura. Pela primeira vez um encontro foi idealizado para dar voz a
mais de 450 mulheres de todo o país, com uma riqueza imensurável de
experiências apresentadas através de conferências, debates e rodas de conversa.
O seminário nos remete a uma reflexão sobre mulher e cultura em Goiás.
Para falar sobre “Mulher e Cultura”, é preciso conhecer o
contexto histórico do papel social da mulher na sociedade ocidental. Da mesma
forma, não há como falar do papel da mulher na cultura goiana sem nos
debruçarmos em como se dão as relações sociais na história da humanidade. Desde
os primórdios, mulheres e homens desempenham
papeis sociais diferentes, que variam de uma cultura para outra, de acordo com
as convenções elaboradas socialmente, própria da vida em sociedade. Na
sociedade ocidental o papel da mulher está relacionado com a desigualdade
sexual. A figura feminina foi associada à ideia de fragilidade maior, o que a
colocava em situação de dependência da figura masculina. Tal modelo está
fundamentado na chamada sociedade patriarcal, onde o poder, a rua, as
conquistas estão para os homens, assim como a submissão, a casa, o cuidado com
os maridos e filhos estão para as mulheres.
Qual o papel da mulher na sociedade atual? A mulher do
século XXI deixou de ser coadjuvante para assumir um lugar diferente na
sociedade, de protagonista, com novas liberdades, possibilidades e
responsabilidades, dando voz ativa a seu senso crítico. Hoje as mulheres estão
à frente de universidades, empresas, cidades e, até mesmo, países, a exemplo da
presidenta Dilma Roussef, primeira mulher a assumir o cargo mais importante da
República brasileira.
Ao fazermos referência ao papel social da mulher na
história ocidental, constatamos que a história da mulher goiana não é
diferente. Sua identidade está fundamentada no modo de viver rural de seus
antepassados. A elas eram reservadas a casa, a educação dos filhos, os
ensinamentos religiosos, os serviços da lida doméstica. Comunidades ainda
mantêm viva a cultura herdada de seus antepassados como forma de darem a
conhecer o modo de vida de uma época, que era transmitido em ações rotineiras
no ato de cozer, nas rodas de fiar, nas festas religiosas, no cuidado com a
família. Tais grupos são focos de resistência e teimam em manter viva a cultura
de seu povo. Percebe-se que a mulher goiana, contraditoriamente ao modelo
social de onde veio, ao demonstrar a cultura de uma época em que o patriarcado
prevalecia, é a grande protagonista como guardiã dos conhecimentos, de uma
cultura, e que ainda hoje se fazem presentes, pelo compromisso e persistência
dessas guerreiras.
Grupos de mulheres fiandeiras, benzedeiras, doceiras, parteiras,
comunidades de congadas, mães de santo
das comunidades de terreiro, as negras das comunidades quilombolas, os grupos
de foliãs de reis, são exemplos de
expressões da cultura popular existentes em nosso estado que resistem ao tempo
sem nenhum apoio institucional. É preciso pensar políticas públicas que
garantam a essas comunidades a perpetuação de suas tradições, como forma de
conhecermos e valorizarmos a história das mulheres, de manterem vivas as
culturas herdadas e consequentemente a
história do povo goiano, nossa identidade cultural. Hoje diferente de outrora,
inserida em uma sociedade de direitos, sem as amarras da cultura patriarcal.
Por outro lado, pensar políticas públicas para a cultura
em Goiás na atualidade é pensar a presença da mulher em todos os espaços da nossa
sociedade (presente ainda no espaço da casa, mas atuante nos outros espaços
como protagonistas de si mesmas), é ter sensibilidade para conhecer as
especificidades do sexo feminino e buscar a superação das práticas culturais
machistas.
É necessário priorizar a cultura inserindo em todas as
suas vertentes as questões de gênero, resgatar a história das mulheres, sua importância
na vida social goiana e dar visibilidade às ações por elas efetivadas ao longo
da nossa história, consolidadas pela persistência de nobres desconhecidas; e
mais, é preciso trazer a luz a própria história cultural de Goiás, que
infelizmente é contada apenas pelo ponto de vista daqueles que detêm o poder e
que durante séculos perpetuaram a invisibilidade das ações de nossas ancestrais,
sob o julgo do patriarcado.
Publicado no jornal "O Hoje" na edição do dia 08 de novembro de 2014
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