Tarefa difícil esta de ser mulher em uma sociedade como a nossa, fundamentada
em valores machistas. Mesmo diante de todas as conquistas e avanços, vira e
mexe têm pessoas querendo demonstrar força e desqualificar; falar mais alto e
fazer prevalecer o que na visão deles é o politicamente correto.
Às vésperas da data que simboliza a luta das mulheres, a chegada da ministra
Eleonora Menicucci, na Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência
da República, reacendeu a ira oportunista dos conservadores que habitam o
Congresso Nacional, trazendo a tona os princípios e convicções da ministra a
respeito do aborto, como argumento para desqualificá-la para o cargo que acaba
de assumir. Misturam alhos com bugalhos.
Curioso
é que estes mesmos representantes, hora nenhuma colocam em discussão a
realidade de pobreza, violência e desigualdade, que cerca a mulher brasileira.
A eles não interessa discutir as altas taxas de mortalidade materna, a prostituição
infantil, a gravidez precoce. Não interessa aos nossos excelentíssimos
de-putados discutir políticas públicas e denunciar o tráfico de mulheres, as
condições indignas das encarceradas. Monitorar e cobrar a instalação de
juizados especiais, como prevê a Lei Maria da Penha. Isto, nem pensar! Quanto
mais destinar verbas de emendas parlamentares para a criação de casas abrigos,
centros de referência!
Será que nossos ilustres de-putados têm ideia que as mulheres hoje
representam mais de 50% da população brasileira, e são a parte mais
empobrecida? Que são as mais penalizadas? Trabalham de forma indigna, sem
creches públicas para que seus filhos recebam educação e cuidado; moram em
condições subumanas, sem saneamento básico, sem acesso a políticas de saúde. Certamente não sabem que o Brasil é um dos
países que ocupa as últimas posições no ranking de participação das mulheres na
política!
Por outro lado, será que nossos digníssimos de-putados já analisaram
dados de órgãos como a ONU, o IBGE demonstrando que as mulheres
representam atualmente, mais de 40% da população economicamente ativa? É
provável que nunca ouviram falar de um dado grave que aponta as desigualdades
nas relações de trabalho. Elas recebem em torno de 30% a menos que os homens
para exercerem a mesma função.
Provavelmente desconhecem a importância de instituições como a ONU (Organização
das Nações Unidas), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), CEDAW
(Comitê para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher)
e OIT(Organização Internacional do Trabalho), que em consonância com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos são fundamentais na garantia de vida
digna a todos os seres humanos. Em matéria que circulou nos principais jornais
do país (15/02/2012), desqualificaram a presença da ministra Menicucci na ONU, afirmando que a sua participação na Cedaw,
seria para defender uma proposta de interesse pessoal e não do Estado
brasileiro.
Nossos paladinos da moral e dos bons costumes, de acordo com suas convicções
expressadas, mesmo diante das evidências aqui elencadas, devem pensar que a
Secretaria de Políticas para Mulheres – SPM é desnecessária! Porque não
conseguem dar significado a máxima “a pobreza tem cara, sexo e cor” e dessa
forma não percebem a importância das políticas públicas – reivindicações
antigas - que prevêem, como bem afirmou a presidenta Dilma Rousseff em
sua posse, a erradicação da pobreza.
Nossos nobres representantes teimam em não seguir os princípios
constitucionais, tanto em relação a igualdade entre mulheres e homens, quanto sobre
a laicidade do Estado. O tempo em que o
direito das mulheres passavam pela vontade de mando e desmando dos homens ficou
no passado. Faz-se necessário, no entanto, perseverar na luta. O Fórum Goiano
de Mulheres acreditando nesta premissa prepara uma grande programação, que terá
como ponto máximo a marcha das mulheres, que acontecerá no dia 08 de março, com
o lema: Coragem, Poder e Liberdade, mulheres na luta por igualdade, autonomia e
transformação social. A hora é agora!
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