Cancelamento nas Redes
Sociais
Geralda Cunha
Comunicadora Social, Educadora,
Policial Aposentada, Ativista na defesa dos Direitos Humanos
A dinâmica da
convivência pelas redes sociais nos apresentou um significado mais agressivo
para a palavra cancelamento. O que antes era um termo técnico para algo que
remetia a falhas burocráticas, hoje tem vários significados.
A “convivência” virtual
expôs um lado das pessoas que não conhecíamos, ainda que existisse e não é de
hoje. Cancela-se por qualquer coisa: de acordo com a comunicóloga e
pesquisadora em comportamento Clara Fagundes, as pessoas têm prazer em julgar
outras pessoas, em participar da ruína de outras pessoas, se elas forem
“vilãs”!
Recentemente entrou em
cartaz pela Netflix o filme “Não olhe pra cima”, com Leonardo Di Caprio, Meryl
Streep e Jennifer Lawrence, a comédia/catástrofe, é uma alegoria ao método de
fazer política segundo Steve Bennon, baseado na estética das aparências e na
potencialização da manipulação pelas redes sociais.
Não por acaso o
marqueteiro foi preso pelo FBI por fraudes e lavagem de dinheiro. Creio que a
fraude e o alinhamento do Estado com o capital financeiro são as principais metáforas do filme, que mostra as verdadeiras
faces de políticos importantes mundo
afora! Estão preocupados em “parecer ser”, no espaço das redes sociais. Essas
se tornaram as “ágoras” no mundo virtual. Nela se, vive se posiciona, se
acredita e se “cancela” de acordo com os interesses econômicos, políticos e
ideológicos.
No filme negligenciaram
(cancelaram) o fato real da colisão do meteoro com a terra. Aqui no nosso
quintal (Brasil) cancelaram e cancelam tudo o que não esteja de acordo com o
pensamento negacionista de um pretenso governo: crise sanitária, desmatamentos, desempregos,
inflação, preços em alta, vacina, enchentes, mortes! Investem e apostam em um
Brasil irreal, construído e fomentado por algoritmos, robôs e uma minoria
raivosa! Apostam no quanto pior, melhor! Apostam na eficiência das fakenews. Assim
como no filme, o que menos importa é a veracidade dos fatos, as fontes das
notícias e muito menos nas conseqüências que as falsas notícias provocam na
vida das pessoas. Promovem o CAOS.
Em 2022, ano eleitoral
carregado de expectativas e incertezas, inspiremos-nos em Paulo Freire e no
livro Educação como Prática da Liberdade (1967), que continua extremamente
atual: a partir da definição do que é transitividade crítica - que se
caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas - ele nos ensina a
substituir explicações mágicas por princípios causais, a despir-nos ao máximo
de preconceitos na análise dos problemas. A nos basear na prática do diálogo e
não da polêmica. A ser receptivo ao novo, não apenas porque novo e pela
não-recusa ao velho, só porque velho, mas pela aceitação de ambos, enquanto
válidos. E nos provoca a entender que assumir a transitividade crítica, implica
num retorno à matriz verdadeira da democracia. Neste universo, não cabe
cancelamento!