domingo, 28 de outubro de 2012

Mídia, consumo e violência



 Tempos difíceis. A confusão social está em todos os lugares. São tragédias, dando lugar a outras tragédias. Pessoas agitadas, enervadas, em uma busca incessante por algo que nem sabem identificar o que é. Uma insatisfação permanente. Estas são algumas das características da nossa sociedade,  também identificada por estudiosos  da comunicação como sociedade pós-moderna, sociedade da informação  e ainda sociedade de consumo.

E de fato, podemos afirmar sem muito esforço, que  na nossa sociedade a informação e o consumo estão atrelados um ao outro. Esta é a lógica que fundamenta a comunicação de massa. Toda a informação vem recheada de mensagens subliminares, criando necessidades,  antes inexistentes. E o que é ainda mais assustador,  nos deparamos com um modelo que vende e reproduz aquilo que execramos e que paradoxalmente está presente no imenso “Big Brother” que tornou nossas vidas. Convivemos com ela, cada dia mais naturalmente: a violência.

A mercadoria “violência”  é apresentada com outras do tipo aparelhos celulares, produtos de beleza, medicamentos naturais, tudo num pacote só. Ao mesmo tempo em que se fala da vida ceifada, muda –se o ângulo, substitui-se o semblante consternado por um grande sorriso e anuncia-se a última novidade em assunto de beleza. Naturalmente! Um modelo de comunicação muito perigoso, que segundo Horkheimer, nos traz o risco da padronização com apenas dois fins: a rentabilidade econômica e o controle social.

Entretanto, é diante de um quadro social doente como nosso,  que os profissionais de comunicação devem,  estar atentos a ética da informação. Do contrário, correm o risco de tornarem-se marionetes, joguetes especializados em informações superficiais, alienantes e que passam a agir com a falsa sensação de “super-herois”. Aqueles que tudo podem, estão acima do bem e do mal. Ameaçam, chantageiam, agem com emoção e parcialidade, manipulando a todo o momento  a grande massa humana.

Profissionais desta “estirpe” ignoram dentre outros,  princípios como a  responsabilidade social  que é fazer o seu trabalho com consciência ética,  responsabilizando-se pela informação transmitida ao grande público, e tendo claro os vários interesses sociais. Ignoram o respeito à privacidade e à dignidade humana, deixando de lado a proteção aos direitos e a reputação dos outros, promovendo a calúnia e a difamação e ainda ignoram o respeito ao interesse público quando passam por cima dos interesses da comunidade, das instituições democráticas e da moral pública, em favor dos  interesses econômicos, e de seus interesses pessoais de ascensão profissional.

Pensar a sociedade da informação requer cuidado, compromisso e responsabilidade. É pensar no bem comum, pensar uma sociedade de direitos e deveres, que a cada dia avança e busca se organizar nas suas reivindicações por uma vida digna, em que o direito à comunicação significa o direito de buscar a informação, de opinar e o direito de criticar .  A mídia que tem como princípio único a questão econômica, que passa por cima da dignidade humana, que aliena, que vende, desconhece valores. Pode inclusive, na lógica da mercadoria, substituir do dia para noite, a sua estrela, se o brilho desta já não mais representar os anseios da sociedade de consumo.

Publicado no jornal "O Popular", edição do dia 03/11/2012, na coluna Opinião
Ilustração: Google

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O ataque do quero-quero no dia das crianças

O ataque do quero-quero no dia das crianças
            Ultimamente os feriados tem sido mais prazerosos do que em outras épocas, quando tinha que dividi-los com os trabalhos nos plantões.
           Dia 12 de outubro. Feriado em homenagem às crianças e a Nossa Senhora Aparecida - padroeira do Brasil. Bom demais acordar depois das 8 horas da manhã com aquela sensação de descompromisso, nada pra fazer e vontade de curtir preguiça. Bom demais!
           Depois de tomar um café preto e comer pão de queijo amanhecido, resolvi me arrumar para uma caminhada. Como não podia deixar de ser,  saí bem colorida de casa: blusa amarela, short preto e tênis azul piscina. O feriado me possibilita até isto. Não ter a necessidade de me vestir de acordo com os padrões politicamente corretos, tudo combinando!
          Saí rumo a uma praça nas proximidades de minha casa. Aliás um espaço maravilhoso. A pista para caminhada circunda uma mata num total de aproximadamente mil e trezentos metros quadrados. Este pedacinho de natureza abriga inúmeras espécies de plantas e animais. O prazer de caminhar se torna maior com o canto das cigarras, dos bem-te-vis, com o assobio do vento batendo nas folhas das imensas árvores, muitas delas bem altas e exuberantes, que se impõem sem nem desconfiar que são presas fáceis dos homens. Com o toc-toc do bico do pica-pau nos troncos das árvores, com os voos majestosos dos tucanos e barulhentos das maritacas. A caminhada se torna um colírio para os olhos neste período do ano, durante a primavera. A mata com um verde intenso é intercalada com os ipês em floração. Gente, lindo demais!
          Mas voltando ao início da minha caminhada. Logo me deparei com o pio das corujas. Virei os olhos a minha esquerda e vi um casal dessas aves. Tranquilas como tivessem dando adeus a noite que acabara e desejando - Bom dia! -  ao sol que chegava meio tímido, escondido entre as nuvens. Já na terceira volta em torno da mata, fui surpreendida por uma ave de porte pequeno, penagem cinza, com um topete à Neymar e olhos vermelhos passeando no campo, próximo a pista e que de repente começou a voar em minha direção. Fiquei paralisada! Quando estava bem perto, como um avião das forças armadas fazendo piruetas,   ela desviou e voou longe. Eu continuei caminhando, mas sem perdê-la de vista. Depois de voar para as proximidades, acima das casas, ela voltou novamente,  voando rapidamente em minha direção. De novo, desviou quando chegou perto de mim e mais uma vez ela se exibiu, como se eu tivesse feito alguma coisa, ameaçando seu espaço! Pessoas que estavam próximas começou a observar e eu sem saber o que fazer, com medo de ser atingida com suas bicadas, me restringi a bater palmas e dizer a ela: - Por que quer me atacar? Percebi que a medida que fui me afastando do lugar em que ela me avistou pela primeira vez, ela parou de voar e ficou me observando. 
          A minha blusa amarela foi com certeza o objeto que lhe chamou a atenção, mas havia um motivo para que a ave agisse daquela forma. Já em casa comentei com o meu companheiro o acontecido. achando graça da atitude da ave que eu pensava ser  uma seriema.  - Olha pela descrição está mais para quero-quero e o que ela estava fazendo era proteger o seu ninho, já que costuma fazê-lo em áreas de campos abertos. E não é que ele tem razão! Ao pesquisar sobre as características do quero-quero, uma delas é de ficar próximo ao seu ninho protegendo os ovos e se alguém ou algum animal se aproxima, a fêmea do quero-quero ataca com voos rasantes.
           Bendita blusa amarela que me possibilitou ter contato tão próximo,  numa situação tão peculiar que proporcionou situações e sensações numa despretenciosa manhã de feriado. Coisa de criança criada em cidade, que só tinha contato com a vida no campo quando ia para a casa dos tios.



sábado, 6 de outubro de 2012

Nasceu a primeira flor do pé de ipê

Nasceu! 
Pela primeira vez meu pé de ipê floresceu. 
Há um ano era só muda, frágil, sem defesa aparente, 
mas que resistiu a brincadeira de uma criança valente.

A criança, uma cadela guia,  
que ficava feliz com as traquinagens que fazia.
Peguei meu broto de ipê, presente da minha irmã, 
e sem saber se ia vingar, 
pedi um moço pra plantar. 

Isto já faz um ano. 
Todos os dias olhava para a plantinha na calçada. 
Será que é  rosa, branca, roxo? 
Eu torcia pelo amarelo. 
De repente - com a chegada da primavera - comecei a ver uns brotos, pensei: 
- Meu Deus será que vai florescer tão novinho assim? 

Observava, como se fosse eu quem gestasse aquela  vida!
Numa expectativa boa, 
de vida chegando para alegrar a paisagem, 
alegrar  nossas vidas. 

Eis que ontem de manhãzinha, 
no raiar do dia, 
quando saia de ré, no carro,
não a pé, 
dei uma olhadinha para os lados e lá estava ela radiante, 
com um amarelo gritando e irradiando LUZ. 

Por uns segundos fiquei extasiada e não contive o grito: 
- Uuuuuhhhhhhh, nasceu!!! 
Meu companheiro que estava perto, perguntou: 
- O que foi? 
Olhei para a flor do Ipê e disse: 
- Nasceu a primeira flor do nosso pé de Ipê. 
Nos olhamos sorrindo e saímos felizes para o trabalho. 
Era a Vida se renovando, deixando o nosso dia mais bonito, 
colorido 
leve.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O voto consciente



A caça aos eleitores começou. De fato, num processo democrático, o período eleitoral deve ser comemorado, afinal, o momento nos faz reafirmar e garantir nossas convicções nos princípios e valores constitucionais. É fundamental nunca esquecermos destas conquistas, para não corrermos o risco de compactuar com ideias equivocadas, que sem contextualizar na integralidade momentos políticos da nossa história, diante de episódios específicos da política atual, reportam-se com saudosismo a  períodos históricos,  ditatoriais que nos privavam de quase todos os direitos. Privaram até do direito à VIDA.

Contudo, à medida que nossa democracia avança, devemos amadurecer tanto nos conceitos, quanto nas práticas. As práticas do voto de cabresto, da troca do voto pela botina, devem ficar registradas nos livros de História. Também não devemos trocar nosso voto, por favores. Desta forma os candidatos e candidatas que lançam mão de suas experiências profissionais para legitimar suas candidaturas, precisam rever seus conceitos. São dezenas deles que usam e abusam das prerrogativas da profissão: é o Zé da Farmácia, o Zé da Ambulância, a Maria Enfermeira, o Zé do Carro de Som, a Maria Parteira etc, etc. Tem candidatos, que vão além. Usam da estrutura pública, porque já gozam de mandato parlamentar, e transformam carros em ambulâncias, passando a fomentar o assistencialismo ao invés de usar o seu mandato para exigir acesso à saúde para todos, como está previsto na Constituição.  É a nova roupagem, em tempos pós-modernos,  do voto de cabresto, porque as pessoas que dependem dos serviços públicos – e elas são a maioria – não tem como resolver os problemas de urgências – é claro que vão ficar eternamente gratas pelos “favores”, e,  a  forma de retribuição é votarem nos candidatos assistencialistas. É preciso que no processo educativo da democracia, estas práticas sejam de fato extirpadas do nosso meio.

Infelizmente perdemos muito tempo criticando o uso que se faz da política,  e não nos preparamos para mudarmos aquilo, que como eleitoras e eleitores, podemos mudar. A começar pela escolha das candidatas e dos candidatos. A ficha limpa é um importante critério, mas não é o único. Claro que tendo acesso às informações sobre os candidatos, já que estão disponíveis no portal do Tribunal Regional Eleitoral – TRE, é nossa obrigação enquanto cidadã e cidadão, conhecer  os que possivelmente irão nos representar. Mas não é o único critério. Nas eleições municipais, quando escolhemos nossos representantes para o Executivo e o Parlamento Municipal, é mais fácil conhecermos as pessoas candidatas, porque estão mais próximas de nós.

Coerência é a palavra e o princípio.  Temos ao nosso redor um número considerável de pessoas com as quais convivemos na nossa comunidade. Na associação de bairros, na  igreja, no trabalho, no partido político. Eis que algumas delas são candidatas. É aí que a palavra coerência ganha força e forma. Ao convivermos com uma pessoa é provável que temos oportunidade de conhecer através de suas ações seu caráter, sua honestidade, a  sua coerência entre o que fala e faz. Portanto, é o seu histórico que vai  sustentar o seu discurso enquanto candidata ou candidato. Sinceramente uma pessoa que em sua vida cotidiana,  não demonstrou trabalho efetivo e sim discurso; uma pessoa que não colocou a mão na “massa”, se posicionando em favor das causas sociais, ao contrário, usou de sua liderança comunitária ou  partidária para fortalecer o posicionamento político de quem  ocupava cargo de poder, não merece a confiança das eleitoras e dos eleitores. Não vale dizer que não tinha ferramentas para lutar contra a estrutura, contra os “grandes” . Para que nossa democracia avance devemos apostar em pessoas que de fato, sejam de luta. As pessoas que agem de forma incoerente dependendo do momento político,   pode até ser ficha limpa, mas não tem em seu currículo coerência entre aquilo que prega em seu discurso e aquilo que faz na sua vida e prática política. Quem votar neste tipo de candidato(a), poderá se decepcionar!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Coragem, Poder e Liberdade

            Tarefa difícil esta de ser mulher em uma sociedade como a nossa, fundamentada em valores machistas. Mesmo diante de todas as conquistas e avanços, vira e mexe têm pessoas querendo demonstrar força e desqualificar; falar mais alto e fazer prevalecer o que na visão deles é o politicamente correto.
            Às vésperas da data que simboliza a luta das mulheres, a chegada da ministra Eleonora Menicucci, na Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, reacendeu a ira oportunista dos conservadores que habitam o Congresso Nacional, trazendo a tona os princípios e convicções da ministra a respeito do aborto, como argumento para desqualificá-la para o cargo que acaba de assumir. Misturam alhos com bugalhos.         
           Curioso é que estes mesmos representantes, hora nenhuma colocam em discussão a realidade de pobreza, violência e desigualdade, que cerca a mulher brasileira. A eles não interessa discutir as altas taxas de mortalidade materna, a prostituição infantil, a gravidez precoce. Não interessa aos nossos excelentíssimos de-putados discutir políticas públicas e denunciar o tráfico de mulheres, as condições indignas das encarceradas. Monitorar e cobrar a instalação de juizados especiais, como prevê a Lei Maria da Penha. Isto, nem pensar! Quanto mais destinar verbas de emendas parlamentares para a criação de casas abrigos, centros de referência!
            Será que nossos ilustres de-putados têm ideia  que as mulheres hoje representam mais de 50% da população brasileira, e são a parte mais empobrecida? Que são as mais  penalizadas? Trabalham de forma indigna, sem creches públicas para que seus filhos recebam educação e cuidado; moram em condições subumanas, sem saneamento básico, sem acesso a políticas de saúde.  Certamente não sabem que o Brasil é um dos países que ocupa as últimas posições no ranking de participação das mulheres na política!
            Por outro lado, será que nossos digníssimos de-putados já analisaram  dados de órgãos como a ONU, o IBGE demonstrando que as mulheres representam  atualmente, mais de 40% da população economicamente ativa? É provável que nunca ouviram falar de um dado grave que aponta as desigualdades nas relações de trabalho. Elas recebem em torno de 30% a menos que os homens para exercerem a mesma função.    
        Provavelmente desconhecem a importância de instituições como a ONU (Organização das Nações Unidas), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), CEDAW (Comitê para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher) e OIT(Organização Internacional do Trabalho), que em consonância com a Declaração Universal dos Direitos Humanos são fundamentais na garantia de vida digna a todos os seres humanos. Em matéria que circulou nos principais jornais do país (15/02/2012), desqualificaram a presença da ministra Menicucci na ONU,  afirmando que a sua participação na Cedaw, seria para defender uma proposta de interesse pessoal  e não do Estado brasileiro.
            Nossos paladinos da moral e dos bons costumes, de acordo com suas convicções expressadas, mesmo diante das evidências aqui elencadas, devem pensar que a Secretaria de Políticas para Mulheres – SPM é desnecessária! Porque não conseguem dar significado a máxima “a pobreza tem cara, sexo e cor” e dessa forma não percebem a importância das políticas públicas – reivindicações antigas -  que prevêem, como bem afirmou a presidenta Dilma Rousseff em sua posse, a erradicação da pobreza.
            Nossos nobres representantes teimam em não seguir os princípios constitucionais, tanto em relação a igualdade entre mulheres e homens, quanto sobre  a laicidade do Estado. O tempo em que o direito das mulheres passavam pela vontade de mando e desmando dos homens ficou no passado. Faz-se necessário, no entanto, perseverar na luta. O Fórum Goiano de Mulheres acreditando nesta premissa prepara uma grande programação, que terá como ponto máximo a marcha das mulheres, que acontecerá no dia 08 de março, com o lema: Coragem, Poder e Liberdade, mulheres na luta por igualdade, autonomia e transformação social. A hora é agora!