quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Por justiça a Mayara Amaral e a todas as mulheres vítimas de feminicídio!

Carta de Desagravo
Por justiça a Mayara Amaral e a todas as mulheres vítimas de feminicídio!
Foto: Ivone Cunha

No Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Goiás é o segundo Estado brasileiro que mais teve homicídios de mulheres em 2014.

O homicídio cometido com requintes de crueldade contra mulheres por motivações de gênero, desde 2015, tornou-se crime hediondo com a promulgação da lei nº13. 104/2015, a lei do feminicídio. Na legislação, a violência doméstica e familiar e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher são descritos como elementos de violência de gênero e integram o crime de feminicídio.

As Diretrizes Nacionais sobre feminicídio, lançado em 2016 pela ONU Mulheres Brasil e o Escritório das Nações Unidas, com o objetivo de incluir a perspectiva de gênero nos processos de investigação e julgamento de crimes de feminicídio, prevê como motivações de crimes baseadas em gênero, o sentimento de posse sobre a mulher, o controle sobre seu corpo, desejo e autonomia; a limitação da sua emancipação profissional, econômica, social ou intelectual; o tratamento da mulher como objeto sexual; e as manifestações de desprezo e ódio pela mulher e por sua condição de gênero.

No final do último mês, a tragédia da morte de Mayara Amaral nos deixou mais uma vez assustadas, indignadas, paralisadas diante de tamanha crueldade, da qual ela foi vítima. Foi o grito de sua irmã, Pauliane, através das redes sociais, que nos sacudiu e nos expôs o que acostumamos a ler nos jornais, quando se trata dos relatos de crimes em que as mulheres são vítimas. O tratamento dado pela imprensa demonstra o quanto o machismo está impregnado nos textos e narrativas jornalísticas.

A versão dada pela imprensa colabora para diminuir a culpa do criminoso e desqualificar a vítima, Mayara, quando omitem a palavra estupro, apesar de todas as evidências; quando hiper-sensualizam a imagem de Mayara, para falar sobre o “suspeito” e ainda quando deixam de mostrar o rosto da vítima, quando é para falar da musicista, desumanizando-a.

Tal constatação, infelizmente, demonstra como a imprensa/mídia acaba por corroborar e ser conivente com esta realidade perversa, em que milhares de mulheres têm suas vidas ceifadas.

A violência de gênero está presente nas mídias sociais. Da maneira como é abordada, acaba por se naturalizar no nosso dia-a-dia, nos nossos costumes, jornais, propagandas, e passa despercebida para grande parcela da população e formadores de opinião. A mulher mesmo sendo vítima, é desumanizada.

Quando jornais e revistas expõem a vida da vítima de forma parcial, fazendo juízo de valores, estão certamente relativizando a violência sofrida pela mulher, reforçando a separação: de um lado estão as mães, irmãs, mulheres – belas, recatadas e do lar, passíveis de desejo, admiração ou respeito, em contraposição às demais mulheres consideradas objeto, passível de uso, e portanto, fazem por merecer a violência, o ódio, a morte(1).

Enquanto os casos de violência contra a mulher forem naturalizados, os conceitos de força, domínio, desejo e submissão entre os sexos irão prevalecer. É preciso desenvolver entre os profissionais da comunicação uma consciência ética, de princípios que transponham e superem a cultura machista que violenta e mata.

Nós da Associação Mulheres na Comunicação, unidas a dezenas de outras instituições não governamentais, que lutam pelo direito à comunicação, pela comunicação de gênero, não-sexista, ratificamos nossos princípios e repudiamos todo o tratamento dado pela mídia que reforça o machismo e naturaliza a violência de gênero e o feminicídio.

Pela memória de Mayara Amaral!

Por justiça a Mayara Amaral e a todas as mulheres vítimas de feminicídio!

Nenhuma a menos!

As queremos vivas!!!!

Geralda Ferraz – Radialista/ Assessora de Comunicação/ Esp. Assessoria de Comunicação/ Presidente da Associação Mulheres na Comunicação
Assinam:
Entidades:
Coletivo Mayara Amaral
Associação Mulheres na Comunicação
Rede de Mulheres em Comunicação
AMARC - Associação Mundial das Rádios Comunitárias
Movimento de Meninos e Meninas de Rua de Goiás / MMMR-GO
Sindsaude-GO
Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno
Frente de Mulheres de Movimentos do Cariri e Mulheres do MAIS
CPM/UBM-GO
UBM - União Brasileira de Mulheres
Faculdade de Informação e Comunicação / UFG
Centro Cultural Cara Vídeo
Consulta Popular
Centro de Estudos Bíblicos – CEBI
Centro Cultural Eldorado dos Carajás
Movimento Nacional da População de Rua
Movimento Camponês Popular
Pastoral da Juventude do Meio Popular
Irmandade Brasileira Justiça e Paz
Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra
Levante Popular da Juventude
Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil
Comissão Brasileira de Justiça e Paz – CNBB
UNMP
Central de Movimentos Populares
Comissão Pastoral da Terra – Goiás
Central Única dos Trabalhadores do Estado de Goiás
Rádio Trabalhador
Associação dos Professores da PUC – Goiás
Grupo Feminista Oficina Mulher
ONG Mulher Negra Brasileira Thalita Monteiro Maia
SINT-IFESgo – Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação da UFG, IFG, IFGoiano e Ebserh
Pessoas:
Geralda da Cunha Teixeira Ferraz – Radialista / Programa Voz da Mulher/AMC
Bruna Porto – Filósofa – Programa Voz da Mulher /AMC
Ivone Cunha – Arteterapeuta – Programa Voz da Mulher / AMC
Michely Coutinho – Sindicalista
Mayani Gontijo – Assessora de Comunicação
Maria Inês Amarante. Docente da Unila - Foz do Iguaçu
Lígia Kloster Apel, Radialista, Amarc, Brasil
Mônica Barcellos Café - assistente social
Vilma de Fátima Machado (NDH e PPGIDH/UFG)
Dila Resende - Secretaria estadual do PCdoB GO
Andre Nascimento - UNEGRIO GO
Michele Cunha Franco (FCS e NDH)
Maria Ângela De Ambrosis Pinheiro
Joana Abreu Pereira de Oliveira - EMAC-UFG Renata Linhares - ESEFFEGO /UEG e Professora da SME
Natássia Duarte Garcia Leite de Oliveira. Professora da UFG/Emac.
Claudia Zanini, Professora da EMAC/UFG
Ivone Garcia Barbosa / NEPIEC/FE/UFG
Flavia Maria Cruvinel/ Profa. da EMAC/UFG Ionara Vieira Moura Rabelo, Presidenta Conselho Regional de Psicologia e Profa. Regional Goiás/ UFG
Silvana Rodrigues de Andrade - Profa EMAC/UFG
Janira Sodré Miranda - Comissão de Políticas de Igualdade Etnicorracial do IFGoias/ Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Africanidades-NEGRA.
Beth Fernandes - Presidente da Astral vice presidente do Conem e da CONATRAP
Roberto Nunes - jornalista/ Rádio Universitária
Denise Viola/ Rio de Janeiro /Radialista /AMARC Brasil
Taís Ladeira/ Brasília/ Jornalista / Amarc Brasil
Rose Castilhos / Rio Grande do Sul/ Jornalista Ilê Mulher
Celia Rodrigues/ Ceará/ Radialista
Prof.a. Ana Guiomar Rêgo Souza - Diretora e Presidente do Conselho Diretor da EMac
Carolina Skorupski - Assessora de Comunicação
Dra. Maria Aparecida Alves da Silva - Cida Alves, Psicóloga do Núcleo de Vigilância as Violências e Promoção da Saúde - SMS Goiânia, representante do CRP 09 Goiás e do blog Educar Sem Violência.
Prof. Magno Medeiros - FIC/NDH
Prof. Ricardo Barbosa de Lima - Programa Interdisciplinar de Pós-Graduacão em Direitos Humanos
Franscisneide Cunha - Radialista - Diretora dez Programação da Rádio Universitária
Profa. Lucia Rincón- PUC Goiás
Prof.a. Carolina Zafino Isidoro - PUC Goiás
Prof.a. Angelita Lima - Diretora da FIC
Prof.a. Noêmia Félix da Silva – PUC – Goiás
Wilmar Ferraz - Radialista/ produtor cinematográfico
Rosa Rodrigues – Radialista/ Rádio Comunitária Independência – Ceará
Laisy Moriere Cândida Assunção – Secretária Nacional de Mulheres do Partido dos Trabalhadores
Celso Araújo Filho – Terapeuta Holístico

Parlamentares:
Eduardo Suplicy - vereador - PT/SP
Adriana Accorsi – Deputada Estadual – PT-Goiás
Isaura Lemos - PC do B - Goiás
Jandira Feghali - Deputada Federal – PC do B – Rio de Janeiro
Jean Wyllys – Deputado Federal – Psol – Rio de Janeiro
Vanessa Grazziotin - Senadora - PC do B - Am


Referência Bibliográfica:

*(1) – Cultura do Estupro, artigo Observatório da Imprensa, Alexandre Marini, 31/05/2016.