segunda-feira, 5 de abril de 2010

Fazer Justiça é celebrar o amor a VIDA

“Hoje de manhã, ao sair de casa para levar as crianças ao colégio, tive que despistar o jardineiro que logo me procurava ao telefone. Disse para meu filho baixinho: - diga que não estou! Ele queria receber. Só que o dinheiro que eu tinha para pagá-lo, foi para a cervejinha na noite anterior. Olhei para o relógio e percebi que se não apertasse o pé, novamente os meninos chegariam atrasados na Escola e eu teria que arrumar outra desculpa!”

O trecho acima é uma estória inventada, mas bem que faz lembrar muita gente de carne e osso. Convido a cada pessoa a fazer uma reflexão neste período de quaresma, tempo de conversão! Período que nos propõe mudanças a partir daquilo que nos faz pecadores na nossa rotina diária.

O personagem desta estorinha é um pai de família, podemos imaginá-lo assim. Aparentemente cumpridor dos seus deveres de pai, esposo, cidadão. Porém, nas pequenas coisas deixa transparecer todos os seus costumes e vícios, como pensa, como age. Ele mente, desrespeita as normas e leis, demonstra ser egoísta, buscando levar vantagem em tudo. Na nossa estorinha percebemos ainda, que o pai ao fazer suas obrigações diárias, vai dando exemplos para os filhos de como viver em sociedade.

Exemplos baseados na lei de Gerson, “levar vantagem”! O personagem bem que poderia representar o João, o José, a Maria ou a Joana, pessoas que estão a nossa volta, ou até nós mesmos, cumpridoras dos deveres cristãos, e, extremamente contraditórias. Capazes de dar com uma mão e tomar com a outra.

Quando falamos de conversão / mudança, queremos falar das pequenas mudanças. Das nossas atitudes diárias que caminham do lado oposto ao que pregamos e aprendemos nos evangelhos. E é a partir das escrituras sagradas, sem perder o foco da atualidade que a Campanha da Fraternidade de 2010, traz um tema que nos leva a refletir a VIDA em todos os níveis: pessoal, social, comunitário e eclesial.

O tema “Economia e Vida” – Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6,24), nos propõe uma reflexão: uma economia a serviço da vida, na construção de uma sociedade sem exclusão. Não é fácil pensarmos a vida, em uma sociedade em que os valores da vida foram substituídos pelos valores do poder e do dinheiro. Parece ser impossível enxergarmos uma luz no fim do túnel. Nossa sociedade está fundamentada na desigualdade, na exclusão, no consumismo desenfreado, no egoísmo. É a sociedade onde poucos têm muito e muitos não têm nada!

Estamos convictos que é por causa desta sociedade, que hoje está a serviço do dinheiro, que precisamos urgentemente mudar o rumo das coisas, e, para isso precisamos converter a nós, a comunidade, a sociedade, a Igreja. Precisamos mudar o rumo das histórias de tantos personagens de carne e osso a partir da nossa própria casa. Mas como fazer? É possível?

O segredo é começarmos por nós mesmos valorizando todas as pessoas como gente, vivenciando a máxima de que somos imagem e semelhança do Deus criador. Dar significado a tudo que adquirimos e temos. O que estou comprando é necessário para minha vida? Para que comprar um novo utensílio, se o que tenho está em bom estado de uso? Re-aprender a conviver em comunidade, ver no meu vizinho o meu semelhante, digno do meu amor, do meu cuidado. Praticarmos a nossa fé, nas atitudes diárias, através dos nossos princípios e valores humanos. Como posso querer o bem para mim, prejudicando o meu irmão? Estou colaborando para que a minha comunidade seja mais harmoniosa, menos violenta? Colaboro com a limpeza? Colaboro com o trânsito? A minha atitude está prejudicando alguém?

A conversão se dá também na minha atuação enquanto cidadã e cidadão. Não posso aceitar a miséria, a corrupção, a negligência, sem me posicionar. É preciso que eu também me veja como parte de um universo maior, sendo assim, eu me sensibilizo com a dor do ‘outro’ e não me calo diante das desigualdades, da miséria, da fome e da morte. Eu me coloco como agente ativo em uma sociedade na reivindicação, na luta, na valorização da VIDA. Eu me faço membro de uma Igreja viva que exige e ajuda a construir um modelo econômico de solidariedade e justiça para todas as pessoas.

Quando pensamos que somos parte de uma comunidade universal, precisamos urgentemente nos posicionarmos em defesa da Vida na Terra. Hoje é imprescindível: “Cuidar do planeta não é um slogan, mas um dever da nossa fé e um dever para com a vida”. A mudança de atitude frente a todo o desrespeito com a nossa casa – a Terra – é que possibilitará a continuidade da VIDA, não da minha vida, mas de todos os seres VIVOS habitantes deste planeta.

Quero ainda nesta reflexão me reportar a mensagem do papa Bento XVI quando nos fala sobre a quaresma. Ele questiona: “Qual é, portanto, a justiça de Cristo? ... e responde... é a justiça do amor, de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar. Portanto, fortalecido nesta experiência de Amor, o Cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo Amor”.

Que neste tempo de conversão e mudanças concretas possamos reescrever nossas histórias:... “Hoje de manhã, ao sair de casa para levar as crianças ao colégio, tive que atender ao jardineiro que me procurava ao telefone. Disse para meu filho: - diga para ele que pode vir buscar o seu pagamento!. Olhei para o relógio e percebi que ainda tinha um tempo para separar o lixo para a coleta seletiva. As crianças ficavam felizes e sempre tinham histórias para contar na escola, sobre o trabalho que fazíamos em casa pensando em um mundo sustentável...”

Fonte bibliográfica: L’osservatore Romano e Construir Notícias

Geralda da Cunha Teixeira Ferraz –
Radialista e especialista em Comunicação Pública, Assessoria de Comunicação e Gestão Escolar.

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