sexta-feira, 16 de maio de 2025

“Adolescência” e a des (construção) da identidade

“Adolescência” e a des (construção) da identidade Por Geralda Cunha* A notícia recente de que uma criança de 08 anos morreu depois de participar de um desafio pela internet, inalando desodorante, veio somar a uma onda crescente de casos envolvendo crianças e adolescentes inseridas no mundo virtual, que terminam de forma trágica. Lidar com a vida real Certamente isto explica o sucesso da minissérie britânica da Netflix, Adolescência. Em quatro capítulos a história de um típico adolescente, que se vê envolvido na morte de uma colega de escola, desnuda características dos adolescentes, já conhecidas da nossa sociedade: Todos conectados no mundo virtual, geralmente trancados em seus quartos, envoltos em jogos eletrônicos por horas; dificuldades de lidarem com a vida real; não lidam com frustrações; envoltos em casos de bullying, misógina e atitudes que não prevê o respeito ao outro; geralmente são crianças e adolescentes com pouca ou nenhuma convivência social. Os pais, costumeiramente se vêem absorvidos com o trabalho e enxergam a realidade dos filhos trancados nos quartos com um celular ou um computador, como uma forma de protegê-los dos perigos externos. O sentido da vida O avanço tecnológico e as mudanças sociais do mundo pós-moderno em que estamos inseridos são aspectos explorados por dois estudiosos, que tentam explicar o modo de vida das pessoas e em especial dos adolescentes. O alemão Siegfried Kracauer, já no início da década de 1920, chamava a atenção para transformação da sociedade moderna e a perda de sentido da vida. Em sua análise, as pessoas com mais acesso aos bens materiais e culturais, se tornavam mais solitárias! Já o antropólogo francês David Le Breton, em pesquisa que data de 2018, analisou o comportamento de risco, em específico do adolescente. Para ele, muitos internautas, e particularmente os adolescentes, concentram-se em seu avatar como um alter ego mais vivo do que eles, e experimentam através dele, formas de sociabilidade, de sexualidade que na vida real ainda os assustam. E afirma: – Sim, é mais fácil ser virtualmente, do que ser na vida real! A saída é coletiva De acordo com Kracauer e Breton, a sociedade pós-moderna e o avanço tecnológico promoveram pessoas mais individualistas, solitárias, sem vínculos afetivos e consequentemente sem identidade. Tais reflexões servem para que nós mães, pais, educadores e educadoras vejamos para além dos problemas pontuais recorrentes e suas consequências na educação de nossos filhos. É contraditório nos dias de hoje pensar a família como necessária, a primeira responsável por criar vínculo social, inserida em um grupo, com histórias, raízes, identidade se, por outro lado, os “provedores” desta família se veem diante da exigência de um estilo de vida, baseado no consumo, nas exigências do mercado e que não os possibilita interagir, dialogar, nem conviver para criar vínculos sociais com seus filhos. Quais são os vínculos que temos com nossos filhos? Quem são os nossos filhos? Pessoas com identidades próprias? Ou seres que projetam em um “avatar” seus sonhos e expectativas? Ou ainda, “zumbis” que caminham para lugar nenhum?